terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Meu querido bambu

Era uma vez um maravilhoso jardim, situado bem no centro de um campo. O dono costumava passear pelo jardim, ao sol do meio-dia... Um esbelto bambu era para ele a mais bela e estimada de todas as árvores e plantas do seu jardim. Este bambu crescia e se tornava cada vez mais lindo. Ele sabia que o seu Senhor o amava e que ele era sua alegria. Um dia, o dono, pensativo, aproximou-se do seu amado bambu.

Num sentimento de profunda veneração, o bambu inclinou sua cabeça impotente. O Senhor disse ao bambu: "Querido bambu, eu preciso de ti." O bambu respondeu: "Senhor, estou pronto. Faze de mim o uso que quiseres." O bambu estava feliz. Parecia ter chegado a grande hora de sua vida, o seu dono precisava dele e ele ia serví-lo. Com voz grave o Senhor disse: "Bambu, só poderei usar-te se eu te podar." "Podar? Podar a mim, Senhor, por favor, não faça isso. Deixe a minha bela figura. Tu vês como todos me admiram." - "Meu amado bambu"- a voz do Senhor tornou-se mais grave ainda - "não importa que te admirem ou não. Se eu não te podar, não poderei usar-te."

No jardim ficou tudo silencioso... O vento segurou a respiração... Finalmente o lindo bambu se inclinou e sussurrou: - "Senhor, se não me podes usar sem podar, então... faze comigo o que queres." - "Meu querido bambu, devo também cortar as tuas folhas..." O sol escondeu-se atrás das nuvens... Umas borboletas afastaram-se assustadas... O bambu trêmulo, à meia voz, disse: "Senhor, corta-as..." Disse o Senhor novamente: "Ainda não basta, meu querido bambu, devo também cortar-te pelo meio e tomar-te também o coração. Se não faço isso, não poderei usar-te." - "Por favor, Senhor!" disse o bambu, "Eu não poderei mais viver. Como poderei viver sem o coração?" - "Devo tirar-te o coração, do contrário não poderei usar-te."

Houve um profundo silêncio... Alguns soluços de lágrimas abafadas... depois o bambu inclinou-se até o chão e disse "Senhor, poda, parte, divide, toma por inteiro, reparte!" O Senhor desfolhou-o. O Senhor decepou-o. O Senhor partiu-o. O Senhor tirou-lhe o coração. Depois, levou-o para o meio de um campo ressequido, a uma fonte de onde brotava água fresca. Lá o Senhor deitou cuidadosamente o seu querido bambu no chão... Ligou uma das extremidades do tronco decepado à fonte e a outra extremidade levou-a até o campo.

A fonte cantou boas vindas ao bambu decepado. As águas cristalinas se precipitaram alegres pelo corpo decepado do bambu, correram sobre os campos ressequidos que por elas tanto havia suplicado. Ali, plantou-se trigo... arroz... milho... feijão... Os dias se passaram... a sementeira brotou... cresceu... tudo ficou verde...veio o tempo de colheita...

Assim, o tão maravilhoso bambu de outrora, em seu despojamento, em seu aniquilamento e humildade, transformou-se numa grande bênção para toda a aquela região. Quando ele era grande e belo, crescia somente para si e se alegrava com sua própria beleza. No seu despojamento, no seu aniquilamento, na sua entrega, ele se tornou canal, do qual o Senhor se serviu para tornar fecundas as suas terras.

E muitos, muitos homens e mulheres encontraram a Vida e viveram deste tronco de um bambu podado, cortado, decepado, partido.

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